Depois de fugir da
perseguição diabólica feminil comandada por sua encolerizada esposa Izanami, no
reino de Dis, Izanagi banhou-se para se limpar das devassidões e, das partes do
seu corpo nasceu Sol, Lua e Mar. O Mar fecundou a Terra e geraram muitos filhos
que formaram inúmeras tribos, Izanagi resolveu cruzar o oceano para conhecer
sua descendência.
Desembarcou na
região das tribos Pastos e Quillacingas, onde hoje é o sul da Colômbia. Izanagi
caminhou para dentro da floresta, e se deparou com a tribo dos ticunas que lhe
contou a respeito da existência de seus outros irmãos, os baníuas.
Nessa tribo
baniwa-arawak, Izanagi, desposou uma mulher e a engravidou, juntos eles
partiram de canoa, por vários meses percorreram o gigantesco rio que hoje se
chama Amazonas. Quando estavam próximos à foz, a nova esposa de Izanagi deu à
luz dois curumins, Tamandaré e Aricute. Com o nascimento dos meninos, Izanagi
passou a se chamar Tuba Sume e permaneceram juntos na ilha Marinatambal, atual
Marajó.
Os dois curumins
cresceram, e desposaram cunhãs de tribos vizinhas. Tamandaré era um homem calmo
e vivia para cuidar da família, esposa e pais. Aricute era aguerrido que
gostava de batalhar. Certo dia, ao regressar de um combate, Aricute ofendeu o
irmão, atirando contra sua cabana o braço de um inimigo que havia decepado.
Aborrecido, Tamandaré bateu com o pé no chão, fazendo abrir uma enorme fonte de
água que inundou aquela ilha inteira. Quando as águas começaram a subir, as
pessoas procuraram o cume dos montes, tentando salvar-se, mas não havia.
Tamandaré
aconselhou subir nas castanheiras, mas somente seus pais lhe deram crédito.
Tamandaré subiu com sua mulher numa castanheira adulta, e seus pais em
outra. Ao redor tudo desapareceu como se a ilha houvesse afundado, e só se
enxergava os topos das castanheiras. Quando as águas abaixaram, a família de
seu irmão e toda pequena tribo havia sumido. Pesaroso Sume voltou com a nova
esposa para junto de seus três filhos na terra natal. Então Tamandaré saiu da
ilha e habitou o continente originando a tribo Tupinambá cujo sentido é “o
primeiro” ou “o mais antigo”.
Com muito ódio da
descendência que seu ex-esposo teve com outra mulher, Izanami reenvia os
espíritos malignos para matar os homens tupinambás, esses espíritos tomaram a
forma de mulheres belas como nunca se viu igual e seduziram todos os que
estavam na idade varonil. Eles seguiram essas mulheres por dias e noites sem
comer, sem beber, nem parar para dormir ou descansar, assim foram morrendo um
por um pelo caminho sem nunca alcançar aqueles espectros.
Na aldeia sobraram
apenas crianças pequenas e os idosos do sexo masculino, nessa situação as
mulheres tomaram a iniciativa de chefiar o que sobrou da tribo. Algumas
mulheres tupinambás passaram a se comportar como aldeões e eram tratadas como
tal, participavam das discussões masculinas, e iam à guerra. Os homens foram
perdendo espaço e virando mão-de-obra.
Por não aceitarem a
sujeição dos homens, Sol e Lua forjaram um plano: em um dia de eclipse solar
(quando a Lua se posiciona entre o Sol e a Terra), a Lua, que era um potente
varão, aproveita o fascínio da escuridão para engravidar uma jovem chamada
Seuci. Ela dá à luz um menino a quem chama de Izi, que ocultamente era um
grande espírito adormecido.
Ao completar sete
anos, Izi foge da aldeia para conhecer outros povos, passa pela aldeia dos
Baníuas (a mesma onde esteve Izanagi) que lhe disseram sobre uma tribo-irmã ao
norte, e ele ruma para lá. Aos 14 anos de idade, Izi encontra a tribo dos
tainos, os homens dessa tribo possuíam uma profunda cultura e o adotam como
filho, ali Izi vivencia a verdadeira virilidade, desperta como homem e a
consciência da razão pela qual nasceu.
Regressando para a
sua aldeia natal, depois de 21 anos de peregrinação, encontra-a em avançado
estado matriarcal, as haviam mulheres se orgulhado tanto de si mesmas que
fundaram um império tribal feminino, e assim ficaram conhecidas como “amazonas
dos trópicos”.
Izi, que agora se
chamava Iurupari, cheio de autoridade e valor masculino, estabelece uma série
de normas de conduta e leis morais. Instituiu a monogamia; promoveu
modificações nos costumes, na lavoura; criou festas para as colheitas e cerimoniais
coletivos.
Ele também restaura
a energia dos homens, tornando-os autônomos do sexo feminino, para isso
instituiu grandes celebrações em que nenhuma mulher poderia tomar parte, e
segredos que somente os apiabaetes, “varões de verdade”, poderiam conhecer. As
leis de Iurupari impunham silêncio total sobre todos os segredos do oculto, por
isso o significado de seu nome é “boca fechada, segredo” (iuru = boca, e pari =
fechada).
A mãe de Iurupari
se contentou com a volta de seu filho, mas instigada pela curiosidade foi
espionar os rituais secretos, contrariando a lei que punia com a morte a mulher
que visse as celebrações, assim como a qualquer homem que as revelasse às
mulheres ou a um não-homem. Para servir de exemplo de que as leis não podem ser
desobedecidas, Seuci foi condenada à morte. Antes, Iurupari lhe diz que na
verdade ela não morrerá, mas terá muitas outras vidas porque sua energia é
eterna, beijou-a na testa e, em seguida, Seuci foi engolida por uma sucuri.
Iurupari viveu
muitos anos e a tribo aprimorou a pesca, o plantio, a colheita, as construções,
e o artesanato. Certo dia Iurupari dormiu e seu corpo não acordou. Onde foi
enterrado um imbaubazeiro-de-cheiro nasceu. Algum tempo depois os tupinambás
foram extintos por causa do ataque com fogo e ao fio da espada dos espíritos
malignos que possuíam os corpos dos conquistadores, todos comandados por
Izanami.
Contudo, os
descendentes de Iurupari já haviam marchado para o sul e se estabeleceram às
margens do rio Xingu, chamam-se Yudja, também conhecidos como Iuruna que
significa “bocas pretas”, simbolizando o segredo que guardam, mas que com o
tempo foi esquecido. Eles falam um idioma que é a mistura de Tupi com Aruaque,
língua dos Tainos, os pais adotivos de Izi.
Hoje Iurupari vive
em espírito e visita os sonhos das pessoas enquanto elas estão dormindo. Se o
homem está com a consciência tranqüila, ele traz bons sonhos, mas, do
contrário, Iurupari dá os pesadelos como um alerta de que algo não está certo.
Às vezes, junta nos sonhos os amantes, companheiros e amigos que se encontram
distante, devido a isto seu nome também significa: "ser que nos vem à
rede” (y-ur-apa-ri).
Pesquisa: Wikipedia
pdacinho.onegaibr
re-lendo.gabi
pib.socioambiental
* Conto
fictício criado com a junção de lendas e figuras lendárias.
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