Entrevista realizada em 07/06/2014, feita por um jornalista para uma matéria acerca dos g0ys, ainda não publicada na mídia.
01) A ideologia g0y não compartilha de sexo homossexual com penetração, apenas o heterossexual com penetração vaginal. Dois gays que fazem sexo penetrativo vão estabelecer uma relação de ativo e passivo e isso, segundo vocês, degrada o corpo e constrói uma relação desigual porque imita o sexo heterossexual. Isso que dizer, então, que se o sexo gay penetrativo imita o hétero e isso proporciona a degradação do corpo dos indivíduos envolvido e estabelece uma relação desigual, então o sexo heterossexual também não seria degradante porque cria uma relação ativo-passivo, embora o membro passivo do sexo seja a mulher que é penetrada pela vagina? Tal pensamento não faria, neste sentido, o ato de condenar a penetração homossexual contraditório se reafirma a penetração heterossexual? Se é apenas o sexo anal independente de hetero ou homo, então os homens heterossexuais estariam proibidos de penetrar pelo ânus as suas parceiras? E se os heteros são proibidos também, porque a carta de princípios da ideologia g0y destaca compulsoriamente e obsessivamente a penetração homossexual e não destaca com veemência a penetração anal heterossexual? Tal compulsão em condenar a penetração homo não acabaria reafirmando sorrateiramente a cultura heteronormativa e heterossexista que a ideologia G0y tanto tenta desconstruir com a integração de homens sexualmente "liberais"? Isso não faria os G0ys estarem diante de uma contradição estrutural?
Exato, a Ideologia/Filosofia g0y parte do
sentimento e pensamento comum dos homens que não têm interesse em manter
relações sexuais penetrativas com outros homens (mesmo na qualidade de
penetrantes/ativos). Porém, não há nenhuma obrigatoriedade, para que o homem
seja considerado g0y, de ele deva manter relações sexuais com mulheres.
A degradação do corpo não
está no ato penetrativo em si (pênis-ânus) e sim em como isso ocorre. Muitas
vezes, observa-se que durante o coito homossexual se estabelece um clima se
dominação e submissão, há certa obrigatoriedade e seria esse o objetivo cabal
de todo o envolvimento precedente, isso quando há. Na relação sexual heterossexual
também pode haver uma degradação do corpo, dominação e submissão. Como pode
ver, trata-se de seres humanos e suas intenções, motivações que refletem em
suas ações. A imitação da
heterossexualidade está na ilusória ideia de que o ápice do envolvimento
íntimo, da cumplicidade, de que eles serão “um só” através da penetração
pênis-vagina/ânus. Mas isso não vem ao caso.
O corpo da mulher não seria
degradado por ser penetrada pela vagina numa relação de respeito, carinho,
consideração e amor porque a mulher nasceu com o órgão genital próprio para a
cópula, entretanto, não se deve crer que uma mulher estuprada não foi degradada
porque o ato foi pênis-vagina. Compreende a diferença?
Não há uma condenação do
coito homossexual, não se está julgando as práticas sexuais alheias desde que
não sejam através da obrigatoriedade (seja hétero, bi ou homo) e contanto que a
pessoa não faça mal a si mesma nem a outrem, que mal haveria. Vai da
consciência de cada um e se deve respeitar seu foro íntimo.
A questão levantada acerca
da penetração anal homem e mulher ou homem e homem, não há uma proibição, haja
vista a inexistência de regras. Mas há uma comunhão de pensamentos de homens
que compreenderam que a funcionalidade do ânus é excretora, que o ânus sofre
micro-fissuras hemorrágicas e traumas, que o ânus de fato não é um órgão para o
coito.
Enfatiza-se, sim, de que não
temos inclinações ao coito homossexual porque estamos focando o
restabelecimento das relações íntimas, fraternas, físicas, amistosas, cordiais
apenas entre homens. Se estivéssemos focando as relações entre homem e mulher,
veria a ênfase que se daria à não inclinação ao sexo anal com mulheres por
compreender de que, se for para penetrar, que seja pelo órgão genital (vagina)
e não pelo órgão excretor (ânus). Deve-se perguntar às mulheres a preferência
que elas têm, por onde gostariam de ser penetradas e onde sentiriam mais
prazer, se na vagina onde há o clitóris ou no ânus que não há nada. E, note que
a imitação da relação heterossexual pela homossexual chegou ao de subentender
que a próstata seria o “clitóris masculino”.
Reafirmo que não se condena o
coito homossexual nem o sexo anal heterossexual, isto é, a sodomia em geral.
Porém, contesta-se a intencionalidade do ato em si, se as partes envolvidas
estão de acordo, então está tudo bem. O que se condena é forçar o outro a fazer
o que não lhe agrada, só porque se abraça, beija e até se pratica felação,
haveria a real necessidade de penetração para ser algo “completo”? É isso que
não se admite, essa sujeição às normas. Se um homem não quer transar com outro
homem ou com uma mulher, essa vontade deve ser respeitada sem questionamento.
02) Você se afirma gostar de homens predominantemente, pelo menos foi isso que disse numa entrevista, então se você é G0y você integra a abstinência sexual para seguir a ideologia? Logo, um homem completamente homossexual, para integrar a ideologia, deve se abster sexual (abster-se no sentido de não penetrar ou ser penetrado pelo seu parceiro)? A ideologia não estaria, sorrateiramente, copiando e reformando a sua maneira os preceitos bíblicos do fundamentalismo cristão de que relação homossexual é abominação, com a exceção de que vocês g0ys permitem sexo oral e beijo?
Eu sinto, sim, mais atração física pelo
gênero masculino, entretanto não repudio o envolvimento com mulheres caso me
despertem algum interesse que possa levar à intimidade. Mas, sinto mais
facilidade em me relacionar intimamente com homem, as mulheres são grandes
amigas e companheiras e mais presentes na minha vida que os próprios homens.
O homem homoafetivo não se
abstém da relação homossexual, ele chega à conclusão de que a penetração entre
homens é algo irrelevante, desnecessário, uma prática até mesmo sem sentido
para ele, então, por que praticá-lo? Se você pensar, “Então ele seria gouine ou
frotter?”, a resposta é não. Gouines têm características e identidade próprias
que se diferem dos g0ys, enquanto que frottage (frotter) é uma prática sexual
não penetrativa que tanto g0ys como gouines podem ou não fazer.
E se o homem é completamente
homossexual, se ele se sente bem em penetrar e/ou ser penetrado, ele deve ter
seu direito de sê-lo respeitado e não se adequar a nada do que lhe é imposto. A
Filosofia g0y não impõe seja o que for, mas prima pela amizade, companheirismo,
afeto, respeito, carinho, amor e consideração entre homens de igual para igual
atento aos diferentes graus de intimidade e intensidade.
De modo algum, a Filosofia
copiaria tampouco reformaria os preceitos bíblicos para vantagem própria
criando um ideário fundamentalista que, em outras palavras, seria fanatismo
religioso. Primeiro porque a Filosofia não é doutrina/religião, a Filosofia é
comunhão de pensamentos e ações; e o Movimento não é igreja/congregação, o
Movimento é apenas um instrumento/veículo de interação e elucidação da
Filosofia g0y para os g0ys. Não se visou em nenhum momento nem se visará
transformar o Movimento em “ceita” nem a Filosofia em “catecismo”. O Movimento
g0y é Laico e Eclético, não professamos nenhuma fé, crença ou religião, mas
respeitamos as particularidades espirituais dos homens que se identificaram com
a Filosofia g0y.
Quando você leu no site
g0ys.org e no heterogoy.webnode.com passagens bíblicas, você tem de levar em
consideração que a América anglo-saxônica e latina têm influências e continuam
enraizadas nos preceitos cristãos. Quando os homens se depararam no pós-guerras
com seus sentimentos acerca dos outros homens, viram que a construção cultural
que os cercava lhes criminalizava e os condenava por esse “pecado” e essa
“abominação” que é tão somente amar o próximo, o igual, outro homem.
Evidentemente, o contato físico íntimo e envolvimentos de cunho sexual,
prazeres e desejos estão implícitos em alguns casos, mas não se deve
generalizar.
Se a Filosofia g0y tivesse
despontado no Japão, estaria observando o budismo e xintoísmo; na Índia, o
hinduísmo; na Arábia Saudita, o islamismo... Enfim, seja em qual parte do mundo
a Filosofia g0y ganhasse notoriedade, ela procuraria conversar com as pessoas e
suas crenças, mostrar que o crime está em como se procede numa relação homem a
homem e que, muitas vezes, o pecado está nos olhos de quem vê. Caso você não
saiba, a Filosofia g0y não é nova, essa Filosofia existe em outras culturas à
sua maneira, as eu que tenho conhecimento, além da antiguidade greco-romana, são
a da que existiu na Meso América pré-colombiana (porém deixou legado) e a que
se esforça para existir na atual Ásia “heterossexualizada”.
Não há “permissões” para
beijos e felações por parte da Filosofia g0y... É o homem que permite a si
mesmo beijar ou não outro homem, o homem é que se permite receber e/ou fazer felação.
É ele que decide se quer ou não masturbar-se junto e/ou mutuamente com outro
homem. Como não há regras, não há proibições nem permissões na Filosofia g0y,
apenas concordamos que mantemos nossa integridade masculina e física e não nos
sujeitaremos à nada, não aceitaremos aquilo que vai de contra a nossa vontade.
Não somos sequer obrigados a abraçar de imediato outro g0y só porque ele é g0y,
as afinidades, interações, conversações é que nos aproximação e levarão a isso
ou não. O que estamos cientes que devemos aguardar do outro g0y é o respeito
que ele tem por nós de igual para igual.
03) A medicina ocidental - e consequentemente - a medicina brasileira não estabeleceram nenhuma resolução oficial de que sexo anal faz mal à saúde os indivíduos tomarem as devidas medidas de profilaxia. Os médicos comprovam que doenças como hemorroides não são causadas por tal prática. Os g0ys dizem que penetração anal é prejudicial à saúde, diante de quais referências médicas? Quem são os especialistas no assunto os quais vocês se basearam para tal conclusão?
Respondendo à sua pergunta, envie um e-mail para o site do Uro, e questione sobre o que escreveram nos itens três e quatro do Assunto “Sexo e Prazer”. Ainda assim, assista a esse vídeo: aqui.
É a Filosofia g0y que impede ou incentiva as pessoas de praticarem o que quiserem? Não. São suas consciências. Quem não tiver nem terá nenhuma seqüela citada no vídeo pela Dra. Anete Guimarães, agradeça aos céus pela dádiva que tem.
Mais informações a respeito deste tema: AM3.